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Os Gregos pagam as favas

2015-02-25

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Com toda a certeza que até Pedro Álvares Cabral e Vasco da Gama se devem ter visto gregos para chegarem onde chegaram.

Desde sempre falámos de gregos e com gregos sem grandes problemas. Com eles muito aprendemos em circunstâncias difíceis e outras de acalmia e agora não sabemos bem se havemos de entrar pelo campo da solidariedade ou do descrédito. As referências que continuamos a usar no dia a dia nem sempre são reveladoras de facilidades, antes, sim, de dificuldades, bastando para tanto ler nos olhos o que ainda hoje nos passa pela mente e pela linguagem vulgar.
Estou-me a ver grego para levar por diante esta insignificante crónica; um dos grandes do nosso glorioso futebol viu-se grego para ganhar a um dos pequenitos; estamo-nos a ver gregos para levar por diante a linha férrea da Covilhã à Guarda e os professores estão a ver-se gregos para se manterem na carreira onde já passaram grande parte da vida.. Afinal essa coisa de falarmos a toda a hora de gregos já vem de longe, não é só de agora. Não sei porque tanto se discute a esse propósito nos dias que correm quando já em tempo de nossos avós diziam eles que se viam gregos quando era necessário apanhar as azeitonas e podar as videiras, sachar as hortas e debulhar o milho. Viam-se gregos quando tinham que puxar pelo enxadão para abrir os regos nas courelas para semearem as batatas e o resto que precisavam para alimentarem toda a família. Viam-se gregos quando tinham que subir e descer ladeiras rochosas para irem ganhar o pão às minas da Panasqueira e a outras parecidas. Viam-se gregos quando tinham que sair de casa de madrugada, com o saco da merenda a tiracolo, para irem trabalhar nas fábricas de lanifícios espalhadas pelos contrafortes das ribeiras da Covilhã. Muitos se viram gregos quando passaram noites em claro sem saber se haviam de fugir a salto para França ou deixar-se incorporar em forças militares destinadas a conflitos desencadeados em lonjuras de África. Com toda a certeza que até Pedro Álvares Cabral e Vasco da Gama se devem ter visto gregos para chegarem onde chegaram.
Portanto, se o respeitinho é muito lindo, vamos lá deixar de falar de gregos, por tudo e por nada, por dá cá esta palha, porque nós sempre nos vimos mais que gregos para fazer qualquer coisa e mais agora que vamos inventando mil e uma maneiras para sair de uma outra a que demos o nome de crise. Até nos vemos gregos para interpretar palavras soltas saídas de ecrãs televisivos.
Se formos ver a origem de muitas das palavras com que lidamos todos os dias elas são provenientes do latim e do grego e aqueles que foram obrigados a estudá-las viram-se gregos para tirar partido desse mesmo estudo. Teremos que ser, pois, amigos dos que com esforço teceram obras, fizeram história e se têm visto gregos para mantê-la.
Ao falarmos de dificuldades continuamos ainda a dizer que estamos como os gregos. Nós é que estamos a ver-nos gregos para pagar aquilo que devemos e que nos fez andar pelos ares como se tudo fosse nosso e caísse dos céus aos trambolhões. Agora vemo-nos gregos para pormos as contas em dia; vemo-nos gregos quando sonhamos que teremos que prescindir de haveres porque as mordomias não foram extensivas a todos e muitos deles se estão a ver gregos para manterem uma vida estável e coerente. Por certo que as dificuldades gregas são as nossas próprias dificuldades.
E será que os gregos também dirão " estamo-nos a ver portugueses para nos livrarmos do que nos bateu à porta; estamo-nos a ver portugueses para deixarmos o buraco onde nos encontramos metidos …"
E pronto, solidariedade é solidariedade.



Autor
Sergio Saraiva

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
Gregos / grego / dificuldades / Pedro / Álvares / Cabral / Vasco / Gama / Viam-se / tinham

Entidades
Pedro Álvares Cabral / Vasco da Gama / Covilhã / Guarda / Panasqueira

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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