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A televisão dos eleitos

2016-02-10

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Sem que nós o saibamos (…) a televisão nos "vende", todos os dias (…) um número cada vez maior de candidatos a futuras eleições.

Antes de Marcelo Rebelo de Sousa, já políticos como Pedro Santana Lopes, José Sócrates ou mesmo António Costa tinham beneficiado daquilo a que podemos chamar o "efeito televisivo".

No entanto, é a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República que consagra, de forma decisiva, a importância da televisão como meio de comunicação político-eleitoral.

Emídio Rangel já tinha assinalado, há alguns anos, que "Uma estação que tem 50 por cento de share vende tudo, até o Presidente da República! Vende aos bocados (…)! Vende sabonetes!" (documentário "Esta Televisão é a Vossa", realizado por Mariana Otero em 1997).

É certo que esta declaração de Emídio Rangel tem de ser relativizada. De facto, uma estação de televisão, por muito share que tenha, não vende um Presidente da República no sentido de que – tal como acontece com um sabonete -, ela pode torná-lo objeto de um conjunto de anúncios publicitários mais ou menos atraentes e, assim, persuadir os telespectadores a "comprá-lo" (votar nele). Mas pode "vender" um Presidente no sentido em que a televisão lhe confere notoriedade e o torna empático para os telespetadores – que o veem como um "amigo" que todas as semanas convive com eles na sala de estar.

Estas duas estratégias de "venda" – chamemos-lhes a publicitária e a informativa - diferem entre si quanto ao tempo, quanto ao modo e quanto à eficácia.

Quanto ao tempo: enquanto a primeira é de curto prazo, a segunda é de longo prazo, desenvolve-se ao logo de anos, com paciência e sobriedade.

Quanto ao modo: enquanto a primeira é ostensiva ou declarada, a segunda é encoberta – e encoberta sob a capa do "esclarecimento" dos telespectadores, feito de forma alegadamente "objetiva", "isenta" e "racional", em espaços alegadamente dedicados ao comentário e/ou ao debate político.

Também, por isso mesmo, a eficácia da segunda estratégia é muito maior do que a da primeira.

Esta importância decisiva da televisão nas disputas políticas e eleitorais torna ainda mais políticas as televisões, a pública e as privadas. Ela obriga-nos a colocar questões como as seguintes: porque escolhem as televisões os políticos no ativo ou na reserva como comentadores? Porque escolhem uns e não outros? Em que critérios baseiam as suas escolhas? Que interesses mútuos estão em jogo?

É certo que eleger um Presidente da República não é o mesmo que vender um sabonete – mas o problema é que, sem que nós o saibamos, por razões que em muito escapam à democracia, a televisão nos "vende", todos os dias da semana, a quase todas as horas, um número cada vez maior de candidatos a futuras eleições.



Autor
Paulo Serra

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
televisão / Presidente / República / Marcelo / Rebelo / Sousa / vende / Lopes / José / Pedro

Entidades
Marcelo Rebelo de Sousa / Pedro Santana Lopes / José Sócrates / António Costa / Emídio Rangel

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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