No mesmo dia o sol, a chuva e o vento resolveram desabar, cada um à sua maneira, fazendo o que muito bem entenderam.
Andava a malta por aí a queixar-se que este ano não havia inverno e que o sol brilhava todos os dias trazendo uma temperatura que permitia ainda as mangas arregaçadas e o uso de vestuário levezinho e algo fresco. Na serra o tempo primaveril desafiava caminhantes e portadores de máquinas fotográficas ou simples telemóveis. Os matos, em sua verdura natural, eram sinal aprazível numa paisagem montanhosa e robusta. Se a chuvinha não caía S. Pedro é que ia pagando as favas, como já é costume dizerem alguns. As coisas se mudaram, porém, num rápido. Em meia dúzia de dias tudo se alterou em termos meteorológicos com ondulações fortíssimas no litoral marítimo e chuvas torrenciais espalhadas de norte a sul. Os caudais de alguns rios e ribeiras subiram de tal forma que as margens não foram capazes de conter águas bem caídas, estrebordando sem mãos a medir e entrando até por moradias, sem tocarem sequer à campainha das portas. Subiram escadarias e abeiraram-se das desprotegidas janelas. Como não bastassem as águas, o vento resolveu também bater forte castigando os menos acautelados ou mais desprotegidos. No mesmo dia o sol, a chuva e o vento resolveram desabar, cada um à sua maneira, fazendo o que muito bem entenderam.
O Complexo Desportivo da Covilhã foi um dos locais mais castigados, pois foi deveras atingido com quebra de vidraças, deslocação de coberturas metálicas e destruição de redes protetoras e de segurança. Os danos foram de tal ordem que, durante mais de uma semana, impediram a abertura das instalações, salão de ginástica, balneários e outros anexos, privando habituais utentes de um serviço deveras importante em termos de saúde da comunidade e onde diariamente se encontram praticantes de atividades variadas, complementadas com um labor linguístico que também faz parte do desenvolvimento físico e mental.
Os cumes da Estrela branquearam, mas não tanto como pretenderiam os investidores dos equipamentos de desportos de inverno, que este ano muito investiram nesse campo, na esperança que Fevereiro se dispusesse a colaborar, o que parece ter, de certa maneira, vindo a acontecer.
O último fim-de-semana foi sinal marcadamente positivo no que diz respeito a bens que temos tão perto de nós e que, por vezes, desprezamos ou não olhamos para eles. No ponto mais elevado do País, centenas e centenas de carros, se não mesmo milhares, mantinham-se estacionados nos espaços para isso reservados e não só, rodeados de gente que brincava com crianças e jovens a quem atiravam bolinhas brancas e com quem faziam bonecos onde as caricas serviam de olhos e, pauzinhos afiados, de nariz e boca. Era a beleza e a riqueza da neve que a mudança do tempo em poucos dias nos trouxe. Teremos que ser capazes de sabê-la aproveitar porque nem todo o território tem esse bem que está entre nós, mesmo quando as intempéries e rápidas mudanças climatéricas parecem não querer nada connosco.
Se o intenso movimento automobilístico é desmotivador, ele é, em si, forte sinal de atração turística e económica de que tanto vamos falando em nossos dias. Temos que abraçá-lo com ambas as mãos nem que para tanto seja necessário pedir a S. Pedro que nos valha.
Autor
Sergio Gaspar Saraiva
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
Andava / tempo / mesmo / sol / maneira / vento / fresco / voltas / malta / queixar-se
Entidades
S. Pedro / Andava / Complexo Desportivo da Covilhã / Estrela / Fevereiro
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