Uma paixão não correspondida espoletou os primeiros sinais de esquizofrenia. Por não tomar a medicação, Tó passa os dias a vaguear pelas ruas da Covilhã.
É uma das figuras da cidade. Quase todos sabem quem é, mas poucos conhecem sequer o seu nome. Há quem lhe chame Jesus, talvez por passar os dias a deambular pelas ruas e vielas íngremes da Covilhã, a proferir palavras imperceptíveis acompanhadas de gestos enérgicos, como se estivesse a pregar para uma assembleia de fiéis inexistente. António Vicente, 50 anos, teve uma existência normal até ao início da idade adulta, quando "um amor de perdição" foi o gatilho para despertar a esquizofrenia diagnosticada mais tarde, explica o pai.
Tó é o quarto de seis filhos de João Vicente, 78 anos muito vividos, olhos verdes penetrantes, barba grisalha farta e chapéu de feltro negro como o resto da roupa que vai usar "para a vida toda", em sinal de luto pela sua Beatriz, falecida há uma década. "O mais bonito" da sua prole fez a escola primária, antes de passar a ajudar o pai, feirante de roupa e calçado, por esses mercados fora.
João, o irmão mais velho, 56 anos, recorda com o pesar por algo perdido os tempos de António como "uma pessoa normal", que saía na companhia dos primos e dos amigos com a noção dos limites para não cair em excessos, que gostava de ler e de escrever, que costumava ir ao antigo Cine Centro ver os apreciados filmes, que ia ao salão jogar bilhar e gostava de disputar uma partida de futebol.
Hoje, é a personificação da inquietude e do alheamento. "Só ele próprio é que se entende. Fechou-se nele. Só convive com ele próprio. Nunca foi desordeiro. É educado, respeita as pessoas, mas está sempre no mundo dele", descreve João Vicente, o primogénito.
(Reportagem completa na edição papel)
Autor
Ana Ribeiro Rodrigues
Categoria
Secções
Palavras-Chave
Vicente / Covilhã / João / perdeu / paixão / correspondida / espoletou / sinais / ruas / amor
Entidades
Tó / Jesus / António Vicente / João Vicente / Beatriz
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